Miguel Magone (1845-1859)
D. Bosco narra o seu o encontro com Miguel Magone:
«Numa noite de Outono, encontrava-me na estação de Carmagnola, e devia esperar pelo trem para voltar a Turim. O relógio já havia tocado 19h00, o tempo estava nublado, uma densa neblina transformava-se em chuva fina e fria. Tudo contribuía para que as trevas fossem muito densas, a ponto que a distância de um passo não se conseguia ver uma alma viva. A luz da estação tinha uma claridade tão fraca que se perdia na escuridão. Só um grupo de jovens com muito barulho e agitação chamava a atenção, ou melhor, ensurdecia os ouvidos dos “espectadores”. Só se ouvia: “espera”, “apanha”, “corre”, “agarra esta”, “apanha aquele” serviam para ocupar os pensamentos dos que iam viajar. Entre aquelas vozes identificava-se uma que sobressaia das outras, tão nítida que dominava todas as outras. Era uma voz de “capitão”, repetida pelos colegas e seguida por todos. Assim, nasceu em mim um desejo de conhecer aquele que com tanto ardor e prontidão sabia liderar e controlar tamanha confusão. Encontro-os reunidos à volta daquele que era o guia. Com dois saltos lanço-me para o meio deles. Todos fugiram assustados; fica um só, que se aproxima e apoiando as mãos nas cinturas com ar imperioso, cabeça erguida começa a falar:
-Quem é você que vem interromper e atrapalhar os nossos jogos?
- Eu sou um seu amigo.
- O que quer de nós?
Mas quem é você? Eu não o conheço.
- Já lhe disse, sou um seu amigo: desejo me recrear com você e com os seus companheiros. E você, quem é você?
- Eu? Quem sou? Eu sou... – diz com voz grave e sonora – Miguel Magone, o general do grupo.
Enquanto estávamos nestes discursos, os outros rapazes, que se tinham dispersado, um a seguir ao outro, aproximaram-se e reuniram-se à nossa volta. Depois de uma palavrinha a um e a outro, voltei-me de novo para Miguel:
- Meu bom Miguel, você tem quantos anos?
- Tenho 13 anos.
- Já se confessou alguma vez?
- Oh, sim! – diz sorrindo.
- Já fez Santa Comunhão?
- Sim já fiz e já recebi mais algumas vezes.
- Aprendeu alguma profissão?
- Aprendi a profissão de não fazer nada!
- Então até agora o que tem feito?
- Fui à escola.
- E que ano você fez?
- A Terceira classe.
- Ainda tem pai?
- Não, o meu pai já morreu.
- E mãe?
- Sim, a minha mãe ainda é viva e trabalha para um patrão, e faz o que pode para dar um pouco de pão a mim e aos meus irmãos que a fazemos, continuamente, desesperar.
- O que quer fazer no futuro?
- É preciso que eu faça alguma coisa, mas não sei o quê.
Esta franqueza das coisas, unido a um discurso assim ordenado, fez-me perceber quanto perigo estava eminente para aquele jovem, assim lançado naquele caminho.
- Meu bom Magone, você tem vontade de abandonar esta vida de rua e aprender alguma profissão, ou então continuar a estudar?
- É claro que tenho vontade. Esta vida de garoto da rua não me agrada nada. Alguns dos meus colegas já estão na prisão, e eu temo o mesmo para mim, mas que devo fazer? O meu pai morreu, a minha mãe é pobre, quem é que me vai ajudar?
- Esta noite faz uma oração fervorosa a Deus Pai que está no céu; mas reza de coração, confia n’Ele; Ele providenciará para mim, para você e para todos.
Naquele momento o sino da estação sinalizava a última chamada e eu devia partir.
- Toma! Toma esta medalha, e amanhã vai ter com D. Ariccio, teu vice- pároco e diz-lhe que o padre que lhe deu esta medalha gostaria de ter algumas informações quanto ao seu comportamento.
Miguel recebeu a medalha com respeito e perguntou:
- Mas qual é o seu nome, de onde você é? Conhece D. Ariccio?
Magone fazia estas e outras perguntas mas eu não pude responder, porque tinha de subir rapidamente para a carruagem e voltar a Turim.
O rapaz pela curiosidade, rapidamente foi ter com D. Ariccio. O vice-pároco compreendeu logo quem era o padre e no dia seguinte escreveu-me uma carta com algumas informações: Magone, Miguel é um rapaz volúvel, agitado, perturba na Igreja e na escola, foi expulso da escola, difícil de controlar e controlar-se, mas é bom de coração e simples nos costumes.
Mesmo assim D. Bosco enviou para Miguel Magone uma carta de aceitação no seu Oratório.
Poucos dias depois, vejo-o aparecer diante de mim, correndo ao meu encontro:
- Eis-me aqui! Eu sou o Miguel Magone que o senhor encontrou na estação de Carmagnola.
- Eu sei tudo, meu bom amigo. Vieste de boa vontade?
- Sim, sim, boa vontade não me falta.
- Se tem boa vontade, recomendo que não me coloque em confusão toda a casa!
- Oh, mas esteja tranquilo que não vou desiludir. Dois colegas meus já estão na prisão…
- Bom ânimo, então. Diz-me só uma coisa: Você gosta mais de estudar ou aprender uma profissão?
- Estou disposto a fazer o que quiser, mas se me deixa escolher, prefiro estudar.
- Pensando em estudar, o que tem em mente para quando terminar os estudos?
- Se um vagabundo… - começou a dizer e baixou a cabeça.
- Continua… o que queres dizer: se um vagabundo…
- Se um vagabundo pudesse tornar-se muito bom para ser padre, eu queria ser padre.
- Veremos o que um “vagabundo” saberá fazer!!! Comece a estudar: mas quanto ao ser padre ou outra coisa, isso dependerá de teu progresso no estudo, do teu comportamento moral e dos sinais de chamado ao sacerdócio.
Alguns elementos par nossa reflexão:
O olhar pastoral – Ele ouve o barulho, as brigas, vê a situação com o olhar e o coração diferente, um olhar e coração de quem ama.
Aproximação - abordagem– se faz próximo – ele se aproxima naquilo que os jovens gostam: sou amigo, quero me divertir, quero jogar com vocês!
Diálogo a partir do Jovem - Diante da pergunta desafiadora – quem é você, o que quer de nós?Quero, se você desejar ( deixa a opção para eles) me divertir, e conversar com vocês.
Quem é o Senhor? Insiste Magone
Coloca o menino em crise! Faz pensar, raciocinar. Dom Bosco responde : eu sou um amigo devolve o pergunta e você quem é?
Eu sou Miguel Magoni – o chefe, o capitão o general do bando ( estabelece uma comunicação e ao mesmo tempo se identificou, e, definiu o seu território estabeleceu um limite)
Uma vez que o jovem é alguém diante dele, D. Bosco dá o passo e pergunta sobre a sua vida.
Ajuda a expor o seu caso, o seu problema, contextualiza a vida daquele menino. Interessa-se pela sua vida, familiar, religiosa, juvenil e profissional.
Lança um desafio. E espera.
Já na casa de acolhida em Valdoco garoto o procura, e é acolhido na casa. A primeira coisa que enxerga é o pátio e pede para jogar, brincar. Lá ele estabelece um novo grupo, ele se torna também um general. Furacão.
Presença significativa de Dom Bosco, dos assistentes e do próprio grupo desperta para um novo horizonte.
Escuta da realidade do Jovem – Gostar do que eles gostam para que possam gostar daquilo que é necessário pra a educação.
Pedagogia do ambiente – Clima de família, de alegria, de festa ( herança de Francisco de Sales) Palavras como gotas – Episódio de Mamãe Margarida – Boa noite
Amor e respeito
Dom Bosco disse: “Se você quer ser amado por alguém, ame-o antes”. Mostre ao jovem, claramente, que você está ao lado dele. Olhe-o nos olhos. Nós é que pertencemos aos nossos filhos, e não eles a nós. Quem quer ser amado deve demonstrar que ama. E você gosta do seu filho não para que ele goste de você. Você gosta dele como Deus gosta da gente: sem cobranças, sem busca de retorno. Você gosta dele porque você se sente feliz em vê-lo crescer como pessoa humana.
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